Crónica dos dias que passam



Agosto em Lisboa já não é o que era.


Ruas desertas, restaurantes de porta fechada, cafés de esplanada recolhida e cartãozinho na porta a informar os excelentíssimos clientes do encerramento para descanso anual, a sensação de ser o único (e o último) ser vivo a ter ficado para trás na colectiva debandada estival, acentuada pelo calor opressor e pelo silêncio do trânsito. A "terra" ou os algarves, a Costa da Caparica ou as praias mais snobes (ainda não era o tempo das praias "colunáveis" ou "in") tudo aparecia apetecível para fugir ao destino desertificado dos que ficavam. E aos que ficavam, seres estranhos tocados pelo infortúnio ou por uma inexplicável loucura, nada mais restava que permanecer na penumbra do lar, à espera do Setembro redentor.


Felizmente - ou infelizmente... - esse tempo acabou. Há turistas aos molhos - ainda que maioritariamente confinados ao eixo Baixa-Belém - férias repartidas, diminuição do rendimento disponível, Verões alternativos disponíveis noutros pontos do globo. Lisboa mantém-se compostinha de gente.


Agosto em Lisboa já não é o que era.


Mas continua a ser um tempo de menor velocidade, de peregrinações a portos seguros de bem comer, de escolhas certas, de cumplicidades.


O Fidalgo continua a oficiar com competência e as sugestões de vinhos são sempre boas surpresas.


Filetes de peixe-galo macios no interior e de cobertura estaladiça e açorda lisboeta pastosa e húmida como deve ser.





Medalhões de javali, tenros, a desfazerem-se no primeiro mastigar. Um belo repasto.



Mas os filetes são como a palavra cerejas: atrás de uns vêm outros e o desejo de mais. E que outro céu em Lisboa há que outro porto de abrigo em Lisboa existe para os recolher melhor do que o Pitéu?


Ruma-se assim até à Graça tão linda e tão boa para uma noite de consolo. E mesmo de motores ainda em aquecimento, mesmo com o cozinheiro com a mão fria das férias, eles nos aqueceram a alma.


E assim vai Lisboa da canícula...

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No último ano..