Culinary Arts #3.10 - O bacalhau da Póvoa de Lanhoso


Bacalhau jurássico. Bacalhau como só cresce no restaurante O Vítor, sabe-se lá por que artes ancestrais, estou disposto a apostar enraizadas nas virtudes célticas, herdadas dos tempos pré-cristãos que unem os verdes minhotos à verde Irlanda, os nevoeiros das serras às brumas bretãs. Do triângulo contido pela Verdeterra, a Ilha do gelo e o Reino do Norte se retiram espécimes como este, salgados junto à ria aveirense e criados com desvelo nesta nobre casa de calmo saber e bem receber. Bacalhau jurássico. Bacalhau como só cresce no restaurante O Vítor.

Descido à capital, mais uma vez, mas sempre como na primeira vez, para nosso prazer e lambarice, desta vez muito bem acompanhado por todo o concelho natal. Honra à Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa, que cumpre o seu papel didático. Pena temos nós por também não podermos arrancar o mesmo didatismo à esmagadora maioria dos restaurantes "regionais" que ainda sobrevivem na cidade, pálidas lembranças da terra-mãe das suas mãos fundadoras, pálidas memórias para descendentes ou trespasseiros, pouco incitados a  pesquisas ou melhoramentos pela clientela quase indiferente!...

Merecida que é, talvez seja injusta para a oferta gastronómica concelhia a preponderante menção ao bacalhau. Sendo a terra minhota, não poderia deixar de oferecer um vinho verde pimpão, uns enchidos profundos, um pinoteante cabrito, justamente sacrificado

Voltando à rua Saraiva de Carvalho: mais um dia para festejar, perante tanta promessa.






Com Mestre Vítor a completar a orientação do Chef Diniz.



E, finalmente, a sala, a refeição ansiada.


Bolinhos de bacalhau, as quais se tentou acrescentar a conversa, regados por um verde branco local (Quinta Villa Beatriz).




Qual a conversa possível, perante esta gulodice - o tempo? política? o euro? Não. O passar da vida, os prazeres que, ao arrepio do seu correr, nos saltam, inesperados, ao colo e se colam à memória. A partilha dessas memórias, desses prazeres, aumentados e relembrados por este novo prazer.

E, depois, esta maravilha (apesar do amor exagerado à grelha que revelou).


Sem palavras. Só olhos. (Grande Vinhão, que me embaciou os olhos.)



E, a finalizar, o cabrito.


(Mas quem poderia atender à infância das coisas, depois da visita ao Jurássico?)

Feliz, chegou o leite creme.


E chegaram as Rochas do Pilar que, mais novas que eu, já se tornaram ex-libris concelhio, homenageando essoutro centenário ex-libris que é o Santuário de Nossa Senhora do Pilar.

E as Cavacas e Charutos, alguns dos doces tradicionais vendidos nas romarias do concelho.


Boa terra, boa gente, a deixar-nos felizes, assim.

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