Da crítica



Como falamos de uma refeição quando queremos falar de uma refeição?

Sendo impraticável a sua quantificação, resta-nos o campo subjectivo da adjectivação do sentido mas, mesmo esse, apenas garante uma potencial identificação entre quem descreve e quem escuta - como poderemos ter a certeza de que sentimos da mesma maneira, que os nossos receptores têm o mesmo grau e o mesmo tipo de afinação, que os sentimentos - presentes ou evocados pela memória - vividos acentuem ou diminuam o prazer da prova?

A crítica não é pois um exercício de classificação, antes um jogo de confiança: eu, leitor, ouvinte, confio ter o mesmo tipo de reacções aos estímulos propostos (ou exactamente os opostos) pelo que me proponho adoptar a informação como guia; eu, crítico, confio que a subjectividade dos meus sentidos não esquecerá a minha formação, a minha experiência, a minha análise factual possível.

Ler uma crítica não é um exercício de aprendizagem, antes um ritual de comunhão, um apelo à integração numa tribo que se julga com o mesmo sentido de gosto(s).

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No último ano..