Novas (das) Migas de Mora: Luís "Zagaia" Barradas


Luís Barradas, o chefe que tão bem conta de si deu no Tagus e que, desde há alguns meses, lidera os destinos gastronómicos do neófito Zagaia, foi o terceiro cozinheiro a participar na iniciativa Migas com Chefe, idealizada pela Câmara Municipal de Mora, no âmbito da edição 2018 do Mês das Migas.


O restaurante eleito para a partilha foi paviense O Forno, discreta mas competente casa, há oito anos nas mãos do casal Sandra e António Justo.



Sala de recepções da vila, tem como faróis chamativos regionais o Cozido à Alentejana com Grão e as Migas de Espargos com Carne do Alguidar a que acrescenta os mais nacionais (mas não menos celebráveis) Polvo à Lagareiro e Feijoada de Gambas. Neste Mês das Migas oferecem-se as sobreditas de Tomate, de Coentros, de Bacalhau à Alentejana, de Batata, de Espargos com Costeletas de Cordeiro de Leite e ainda as Migas Carvoeiras, as mais simples e as mais "lisboetas".

Uau. Só por isto, os pouco mais de cento e vinte quilómetros que a separam da capital cumprem-se em peregrinação e com um sorriso amplo de antecipação.

Depois há a simpatia dos proprietários, a barra de gulodices que entretêm os dedos enquanto não chegam os pratos pedidos - as empadas de galinha e as de leitão são obrigatórias -,


as conversas, o bem receber.

Com sorte, é dia de taluda e, bem conversado, talvez o sr. António desencante uns túbaros de borrego ou de cabrito,



ou uns tordos fritos acabados de perder o pio,



para além de, no final, se encher a boca com uma azevia ainda morna,



ou uma fatia de sericaia com uma aguardente local para descongestionar.



Sinais de uma gastronomia popular tradicional que junta cânones e gestos caseiros aprendidos e repetidos diariamente, que apenas pretende, alimentando, proporcionar prazer.

No espírito que norteou a organização deste evento - o da partilha de experiências e visões culinárias entre cozinheiros e comensais -, procurou-se, para esta visita, um diálogo entre o interior e o litoral onde ao consumo do pão cozinhado (em migas, na açorda alentejana ou na açorda lisboeta) se juntam os sabores dos frutos do mar. As memórias da infância e adolescência de Luís Barradas, a par da sua prática profissional mais recente, onde se tem assumido como um divulgador das qualidades dos produtos da sua Setúbal natal bem como de todo o restante litoral que bordeja a península, levaram-no a apresentar uma Açorda Rica, acompanhada por uns deliciosos Jaquinzinhos fritos. Num prato que conjugava assim as possibilidades - ser prato principal ou acompanhamento - das "papas de pão" os sabores bem puxados da sapateira, do camarão, da amêijoa, do lingueirão, as diferentes texturas, os indispensáveis alho e coentros foram harmónico cântico, reflexo dessoutro cante que, um pouco mais a Sul, tão bem pinta.




O pão foi cozinhado com caldo das cabeças dos camarões





Foi bonita a festa, pá, onde não faltou a música ao vivo, como prova do favor que o instrumento goza no concelho.


A cozinheira da casa, Maria Adelina, e Luís Barradas
 E para o próximo fim de semana há mais.

O Forno
Rua 25 de Abril, 2, Pavia
Reservas: 925 873 795

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